O Pix completa cinco anos neste domingo (16), consolidado como o maior fenômeno financeiro já visto no Brasil — usado por 93% dos adultos, mais popular que cartão de crédito e responsável por movimentar R$ 85 trilhões desde o lançamento.
Mas, justamente no ano de seu 5º aniversário, quem idealizou e liderou sua criação tomou uma decisão que mexeu com os bastidores da economia: depois de 23 anos no Banco Central, Carlos Eduardo Brandt, o pai do Pix, pediu para sair da instituição e deixou o país.
Brandt trocou Brasília por Washington e assumiu, em agosto, um cargo no Fundo Monetário Internacional, onde atua no setor de pagamentos e infraestrutura de mercados.
Por que ele saiu?
Oficialmente, Brandt diz que aceitou a proposta do FMI porque poderia “contribuir com outros países em escala global”.
Mas a movimentação ocorre em um momento sensível:
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o Brasil vive forte debate sobre regulação de pagamentos;
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há tensões entre governo e Banco Central sobre autonomia e política monetária;
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o Pix virou alvo de gigantes de tecnologia nos EUA, que pressionam por mudanças;
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e o sistema brasileiro passou a incomodar players internacionais que perderam bilhões com a ascensão do modelo nacional.
Nada disso prova que a saída teve vínculo político.
Mas explica por que a movimentação gerou questionamentos — especialmente quando o cérebro por trás da maior revolução financeira do país decide partir no exato momento em que o Pix se torna peça central de debates internacionais.
Pix: o sistema que o mundo passou a copiar
O Pix se tornou referência global.
Alguns países criaram mecanismos “inspirados” no modelo brasileiro:
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Nexus (BIS) – apelidado de “Pix internacional”, já em implementação na Índia, Malásia, Singapura, Filipinas e Tailândia.
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SADC (África Austral) – integração financeira de 16 países usando arquitetura semelhante.
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UPI (Índia) – sistema instantâneo indiano que agora busca padrões de neutralidade semelhantes aos adotados pelo BC brasileiro.
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ONU – recomenda a “infraestrutura pública digital” baseada em experiências como o Pix, o gov.br e a CIN (nova identidade nacional).
O Brasil virou o “laboratório global de finanças digitais”, segundo relatório recente da Valor Capital Group.
Um sistema tão eficiente que incomodou até os EUA
Em julho, o governo americano abriu investigação contra o Pix por “práticas comerciais desleais”, alegando que o sistema prejudicaria big techs internacionais que lucram com intermediação de pagamentos.
A popularidade do Pix — barato, instantâneo e operado por um órgão público — impactou diretamente remessas internacionais e sistemas de pagamento privados.
O timing da saída de Brandt, nesse contexto, levantou ainda mais especulações.
Pix aos 5 anos: números que explicam tudo
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161,7 milhões de usuários pessoas físicas
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16,3 milhões de pessoas jurídicas
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7,9 bilhões de transações/mês previstas
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R$ 85 trilhões movimentados desde 2020
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Modelo mais usado do Brasil e vitrine global de inovação pública
O sistema já é usado mais do que qualquer cartão e moldou uma nova economia digital no país.
O que a saída significa para o futuro?
Brandt diz que continua dedicado à ideia que o guiou desde o início: sistemas financeiros devem ser bens públicos, não ferramentas de lucro privado.
No entanto, sua saída deixa perguntas no ar:
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haverá mudança de rumo na regulação brasileira?
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o Pix continuará sob lógica pública, ou sofrerá pressões do setor privado?
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a autonomia do Banco Central será mantida em meio ao cenário político atual?
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a disputa internacional pelo modelo brasileiro pode alterar sua evolução?
O Pix tornou o Brasil referência mundial.
E justamente quando o sistema atinge seu auge, seu criador deixa o país — e isso, por si só, já diz muita coisa.
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