O saber é uma das expressões mais elevadas da vocação humana. Desde os primeiros capítulos do Gênesis, o homem é apresentado como um ser que nomeia, interpreta e procura compreender o mundo criado. O ato de conhecer, portanto, é parte do próprio chamado divino para participar da obra da Criação — não como deus, mas como imagem e semelhança Dele.
Do ponto de vista
teológico, o saber não é mero acúmulo de informações, mas uma forma de
comunhão. Santo Agostinho afirmava que “crer
é pensar com consentimento”. Ou seja, a fé autêntica não anula o intelecto,
mas o desperta para realidades que o raciocínio, sozinho, não alcança. O saber
é, então, uma via pela qual o ser humano se aproxima do mistério de Deus — não
para decifrá-lo por completo, mas para amá-lo de maneira mais lúcida. A
verdadeira sabedoria não é apenas saber o que é, mas discernir o sentido das
coisas.
Já na perspectiva
filosófica, o saber é a resposta à condição de ignorância e finitude do homem.
Sócrates, ao reconhecer que nada sabia, inaugurou uma forma de humildade
intelectual que ecoa na própria espiritualidade: o reconhecimento dos limites é
o primeiro passo da sabedoria. O saber liberta — não apenas da superstição ou
do erro, mas da servidão interior que nasce da inconsciência. Conhecer é um ato
de libertação.
O filósofo e o
teólogo, embora caminhem por sendas distintas, compartilham um mesmo horizonte:
a busca pela verdade. A teologia chama essa verdade de Deus; a filosofia a chama de Logos,
Razão, Ser ou Sentido. Ambas,
quando autênticas, se encontram no mesmo ponto de convergência: o amor pela
verdade e o desejo de compreender o que somos, de onde viemos e para onde
vamos.
Em tempos em que o
conhecimento é, muitas vezes, reduzido a instrumento de poder, recordar a
sacralidade do saber é um gesto de resistência. Saber é servir à verdade, não
dominá-la. A sabedoria — aquela que
une fé e razão, coração e mente — é o caminho pelo qual o ser humano reencontra
seu lugar no cosmos: um ser pensante, sim, mas também um ser que se ajoelha
diante do mistério.
Opinião: Odair José, Poeta Cacerense
