A Câmara Municipal de Cáceres aprovou nesta terça-feira (14) a doação do prédio onde funcionava o tradicional Humaitá Sport Club para a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, em meio a um debate que dividiu os vereadores e levantou preocupações sobre a preservação da memória e da história do município.
O imóvel, que pertenceu ao clube fundado há décadas e foi doado anteriormente ao poder público sob a condição de manter as cores originais e itens históricos — como a sala de troféus —, agora passa para outro destino sem essas garantias expressas na nova doação.
Durante a sessão, o vereador Césare Pastorelo foi um dos mais enfáticos ao se posicionar contra a forma como a transferência foi feita. Ele alertou que “sem estar na lei, a história vai se perder”, e lamentou que Cáceres, prestes a completar 250 anos, tenha perdido boa parte de seu patrimônio histórico justamente por falta de cuidado e de garantias legais.
“Se pessoas do passado tivessem essa preocupação, não teríamos perdido tanto da nossa história. Hoje, mais uma vez, estamos repetindo o erro”, afirmou o vereador.
Pastorelo também ressaltou que “nós apenas emprestamos o que temos; nada é nosso, na verdade é das gerações futuras”, e defendeu que a preservação da história local precisa estar prevista em lei, para que as próximas administrações não descartem o que restou da memória cacerense.
O presidente da Câmara, Flávio Negação, concordou que a doação deveria conter uma emenda exigindo a preservação do patrimônio, e se comprometeu a apoiar a proposta — que, segundo o regimento, precisaria de cinco assinaturas para ser incluída.
O vereador Manga Rosa, com trajetória ligada ao esporte, se posicionou de forma contrária à preservação. O Posicionamento dele mostra que, “o que importa agora é o progresso”, e os itens históricos poderiam ser “colocados em um museu”, declaração que gerou descontentamento entre colegas.
No momento em que se discutia a possibilidade de incluir a emenda, a sessão foi interrompida por cerca de dois minutos. Nesse intervalo, o plenário virou palco de um bate-boca generalizado, enquanto vereadores tentavam decidir se a proposta de emenda seria ou não colocada em votação. Em meio à confusão, a vereadora Valdeníria Dutra comentou que, “há sete mandatos, parece que ninguém escuta”, vocês tão mudando o regimento, tão fazendo o que querem, dando a entender que sua experiência deveria ter mais peso na decisão.
Após a retomada, Césare Pastorelo formalizou a emenda verbalmente, recebendo apoio dos vereadores Franco Valério, Jerônimo Gonçalves e Flávio Negação. Mesmo assim, a proposta não alcançou o número mínimo de assinaturas, e o projeto de doação foi aprovado sem a cláusula de preservação.
Após a votação, Franco Valério pediu a palavra e lamentou o desfecho:
“Ninguém está querendo atrapalhar nada. A ocupação é importante, o prédio precisa de uso. Mas queríamos apenas uma garantia. Perdemos mais uma vez a chance de preservar.”
Encerrando o debate, Pastorelo desabafou:
“Eu sou o maior perdedor desta Casa. Falei da Cascadeira, falei de todos os projetos. Sempre perco aqui. Mas essa, essa perda eu não carrego.”
A decisão, embora garanta o uso do imóvel pela Defensoria, deixa em aberto a dúvida que ecoou no plenário: mais uma parte da história de Cáceres pode estar sendo apagada pela pressa de resolver o presente.
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