“O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.” Assim escreveu o jornalista Aristides Lobo sobre o golpe que instaurou a República, no Diário Popular de São Paulo, em novembro de 1889. Naquele momento, o Brasil enfrentava o ocaso de uma era que, para muitos, representava um período de prosperidade, respeito e estabilidade. A queda do Império do Brasil foi, sem dúvida, uma das maiores tragédias políticas da nossa história, resultando no desmantelamento de um dos dez maiores impérios da humanidade.
O povo brasileiro possuía uma relação de carinho e admiração pelo Imperador D. Pedro II, que retribuía com dedicação e compreensão pelas necessidades de sua gente. Este vínculo de afeto e respeito foi abruptamente rompido por uma elite republicana que não compartilhava desse amor mútuo. D. Pedro II, popular e comprometido com o desenvolvimento do Brasil, era conhecido por sua postura abolicionista, sendo o Império Brasileiro um dos maiores entusiástas contra a escravidão e seus planos de reforma agrária, que desagradavam a elite latifundiária que defendia a República.
Um golpe às pressas e sem legitimidade
O golpe republicano foi marcado por uma série de manobras que violavam as normas vigentes. Com o Senado em recesso, a decisão foi tomada às pressas na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sem a participação dos senadores e em um processo apressado que visava evitar o retorno do Senado e a possibilidade de reação. A insatisfação de Marechal Deodoro da Fonseca com o Imperador foi exacerbada por razões pessoais: Deodoro teria sofrido um desgosto amoroso quando uma moça, por quem estava apaixonado, casou-se com um amigo próximo do Imperador.
Essa amargura pessoal teria influenciado o Marechal, que, anos depois, refletiria sobre o que fez, admitindo ter cometido "a pior besteira de sua vida". Em um raro momento de humildade, Deodoro teria pedido perdão ao exilado D. Pedro II, reconhecendo o impacto da sua decisão.
A partida de D. Pedro II: uma saída digna, porém triste
Após o golpe, D. Pedro II foi forçado a deixar o Brasil de forma rápida e humilhante. Partiu apenas com a roupa do corpo e sem recursos financeiros, incapaz de garantir seu tratamento médico e, mais tarde, sem meios para tratar de uma saúde já debilitada. Viveu seus últimos dias no exílio, e, no seu leito de morte, em 1891, um punhado de terra de cada estado do Brasil foi colocado ao lado de sua cama, um gesto simbólico de sua ligação profunda com o país que tanto amava. Em suas palavras finais, D. Pedro teria dito: “Deus tenha piedade do Brasil”.
A Guarda Negra e o apoio ao Imperador
A popularidade de D. Pedro II era tamanha que até mesmo a comunidade negra, recém-libertada, o via como um aliado. A Guarda Negra da Redentora, formada por negros libertos e alforriados, jurou lealdade à Monarquia e devotava profundo respeito à Princesa Isabel, autora da Lei Áurea. Esse grupo, movido pela fé cristã e pelos ideais de justiça e igualdade, representava a estreita relação entre a Família Real e os brasileiros, um elo que, para muitos, ainda é lembrado com saudade.
Um legado perdido
A Monarquia brasileira, com todas as suas falhas e limitações, havia promovido um desenvolvimento significativo e estava profundamente conectada com o povo. O golpe que a derrubou, com seu processo apressado e ilegítimo, representou uma mudança radical e trágica para o país. Desde então, muitos afirmam que o Brasil nunca mais recuperou a estabilidade e a prosperidade que experimentou sob o Império, e a frase “Deus tenha piedade do Brasil” permanece um eco sombrio do que foi deixado para trás.