O republicano Donald Trump garantiu sua volta à presidência dos Estados Unidos, vencendo Kamala Harris e conquistando mais de 270 delegados no colégio eleitoral. A vitória foi projetada na manhã desta terça-feira (horário de Brasília) após triunfos decisivos na Geórgia e Pensilvânia, estados que definiram a contagem final em 276 delegados. Esse retorno marca a segunda vez que Trump ocupa a Casa Branca, consolidando-se como líder da direita norte-americana, agora acompanhado do vice-presidente JD Vance.
Promessas e políticas do novo governo
Com uma agenda focada em economia e imigração, Trump promete ampliar os cortes de impostos, reduzir a inflação, e adotar medidas protecionistas em relação à China, incluindo tarifas mais altas sobre produtos chineses. Além disso, sua plataforma inclui a expansão da produção de petróleo e gás, com o objetivo de reduzir custos energéticos. No que é visto como uma postura mais rígida, Trump também anunciou o objetivo de realizar a maior deportação de estrangeiros na história americana e aumentar a segurança nas fronteiras.
A campanha: Rumo ao “grande retorno”
Trump conduziu sua campanha com um tom direto, repetindo em seus comícios a frase “vocês estão melhores agora ou quando eu era presidente?”, apelando à insatisfação econômica do país. Esse discurso ressoou com grupos latinos e afroamericanos, que tradicionalmente votam nos democratas, mas se sentiram atraídos pelas promessas de melhora econômica. Mesmo com múltiplas investigações e acusações judiciais, Trump conseguiu mobilizar uma parcela significativa do eleitorado, especialmente aqueles que haviam se abstido em 2020.
Sua campanha também foi marcada por ataques a valores liberais e promessas de “anos dourados” para cristãos, além de manter uma postura polêmica em relação ao ataque ao Capitólio de 2021, chamando o evento de “dia do amor”. Ele se recusou a condenar os responsáveis pela invasão, deixando claro seu apoio aos seguidores que questionam o sistema eleitoral.
Segurança em alerta: Tentativas de atentado
A segurança do candidato foi intensificada após uma série de tentativas de atentado. Em julho, Trump foi atingido na orelha durante um comício na Pensilvânia, e o suspeito foi morto pelo Serviço Secreto. Em setembro, outro homem foi detido acusado de planejar um ataque enquanto Trump jogava golfe na Flórida, e em outubro, mais um foi preso sob suspeita de preparar um atentado. Essas ameaças reforçaram a narrativa de Trump de que ele enfrenta constantes ataques por desafiar o establishment.
Impactos esperados: Economia e relações internacionais
A volta de Trump promete transformar a economia americana, com foco em redução de impostos, cortes regulatórios e políticas protecionistas. O especialista João Cândido observa que a ênfase no petróleo e gás é uma tentativa de afastar políticas “verdes” e retomar a produção energética tradicional como eixo central da economia.
Em termos de política externa, líderes internacionais estão apreensivos. Trump já deu sinais de que pode revisar alianças estratégicas, como a Otan, e ajustar o apoio à Ucrânia no conflito contra a Rússia. Analistas sugerem que, caso reduza o apoio a Kiev, ele pode pressionar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a negociar um cessar-fogo com a Rússia, um movimento que alteraria o cenário geopolítico atual.
Questões de direitos civis e imigração
Trump sinaliza um endurecimento nas políticas de imigração, citando a “Lei dos Inimigos Estrangeiros” para justificar a deportação em massa. Esse discurso, aliado ao apoio a movimentos ultraconservadores, sugere uma postura mais rígida nos direitos civis e deve intensificar as divisões internas. De acordo com Cândido, "essa postura menos comprometida com as convenções democráticas pode elevar o nível de tensão social nos EUA".
A derrota de Kamala Harris: Obstáculos e desafios
Kamala Harris enfrentou dificuldades para se desvincular das políticas de Biden, o que prejudicou sua campanha. Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais, explica que Harris teve pouco tempo para construir uma imagem independente após assumir a candidatura em julho, após a desistência de Biden. Sua trajetória como vice-presidente, com baixa visibilidade, reforçou a desconfiança sobre sua liderança, especialmente entre eleitores de cidades pequenas que sentem que o governo não entende suas realidades.
Trump: Carreira, polêmicas e condenações
Donald Trump, filho de um herdeiro do setor imobiliário, construiu sua carreira com uma forte presença na mídia e uma gestão controversa de negócios. Durante a presidência, enfrentou dois processos de impeachment, um por pressão sobre o presidente ucraniano Zelensky e outro relacionado à invasão do Capitólio em 2021, onde seus seguidores invadiram o Congresso em protesto contra o resultado das eleições.
Atualmente, Trump encara várias condenações e processos judiciais. Ele foi condenado por pagar para silenciar a ex-atriz Stormy Daniels, e é alvo de investigações sobre interferência nas eleições de 2020, incluindo uma tentativa de reverter a derrota na Geórgia e a acusação de ocultar documentos confidenciais em sua residência.
Conclusão: O retorno de Trump e o fortalecimento da direita global
A vitória de Trump representa um marco para a direita americana e inspira movimentos conservadores em outros países. "Essa é uma vitória para o populismo e nacionalismo", comenta João Cândido. Para líderes como Viktor Orbán, na Hungria, e possíveis retornos de figuras como Jair Bolsonaro no Brasil, a vitória de Trump reforça a viabilidade de políticas nacionalistas e identitárias em todo o mundo.
Trump agora terá a oportunidade de cumprir sua promessa de trazer de volta os “anos dourados” aos Estados Unidos, em um cenário de grandes mudanças econômicas e sociais. Sua vitória representa uma transformação ideológica, com políticas de protecionismo e um reforço nas pautas conservadoras, consolidando sua posição como líder da direita americana e mundial.