Em MT, 28 esperam por um transplante de coração: "Última alternativa" - quadro

 Mato Grosso tem 28 pessoas esperando na fila de transplante de coração, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O transplante é a última alternativa e, quem precisa dele, na maioria dos casos, não pode mais esperar, o que torna o transplante um dos mais delicados. O procedimento é necessário quando as doenças cardíacas já evoluíram a ponto de não responder aos tratamentos e chegam à insuficiência cardíaca, que é a falência do coração, explica o médico cardiologista Sandro Franco. O procedimento não é feito em Mato Grosso, por isso, quem precisa do órgão tem um desafio a mais na corrida contra o tempo.

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Nos últimos dias, o tema “pautou” debates no país, após o apresentador de TV Fausto Silva ser internado com insuficiência cardíaca e entrar para fila de espera do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Faustão está internado no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, desde o dia 5 de agosto para tratamento. Ele entrou para a fila em 8 de agosto e passou por transplante de coração no domingo (27).


O médico Sandro Franco explica que a insuficiência cardíaca leva a necessidade de transplante em pelo menos metade dos casos, que é a etapa final de todas as cardiopatias, mas não é silenciosa.


“As principais doenças que levam à insuficiência são a hipertensão arterial e a doença coronariana, que entope as artérias do coração e pode levar ao infarto. Se um paciente teve infarto, ele perde parte do coração e o coração vai perdendo força. O coração entra com uma disfunção cardíaca grave, perde a força de bombeamento e isso começa a fazer falta na circulação sanguínea do corpo. Uma insuficiência cardíaca avançada pode levar o paciente para uma UTI, necessitar medicamentos intravenosos, aparelhos, até de um coração artificial mecânico. Mas existe um caminho muito longo de doenças cardíacas para chegar à insuficiência cardíaca na maioria dos casos, ela não chega do nada”, exemplifica.


Conforme explica o especialista, a maioria dos casos começa na hipertensão, que é uma grande causa de comprometimento atualmente, e pode evoluir. “É um resultado final de uma série de outros fatores de risco, como diabetes, colesterol alto, tabagismo, obesidade, alcoolismo, sedentarismo, estresse”, explica.


Fila de transplante


Em Mato Grosso, 1.329 pessoas esperam pela doação de um órgão, sendo 28 por um coração, 117 por um fígado, 161 por medula óssea, 325 por córnea e 698 por rins – veja quadro. Embora a fila por um coração seja a menor delas, a situação é mais delicada porque o órgão é essencial à vida e temos apenas um. No caso do transplante de rim, por exemplo, a fila é maior, mas, em tese, conseguir um doador pode ser mais fácil já que temos dois e é possível viver com apenas um.


Além disso, a doação de coração só será possível a partir da morte cerebral de outra pessoa – diferente de outros órgãos como rins, parte do fígado, parte da medula e parte dos pulmões, que pode ser feito por um doador vivo. O transplante ainda depende de fatores como peso, altura e tipo sanguíneo.


“O coração é o último órgão que acabamos aproveitando quando o paciente está em morte cerebral, pois quando é retirado, a circulação toda para”Cardiologista Sandro Franco

O transplante de coração é indicado em casos de insuficiência cardíaca refratária, ou seja, em pacientes cuja condição de insuficiência cardíaca persiste mesmo após receber o tratamento adequado.


“Em muitos casos, os pacientes esperam por anos e boa parte acaba morrendo antes de conseguir. Temos poucas doações, não é fácil, a doação no Brasil ainda é pequena. Além disso, o coração é o último órgão que acabamos aproveitando quando o paciente está em morte cerebral, pois quando é retirado, a circulação toda para”, esclarece Sandro Franco.


Os pacientes que aguardam o transplante do órgão podem ser separados em dois grupos: aqueles que aguardam em casa, e aqueles que estão “priorizados”, pois precisam ficar internados. “Hoje em dia priorizam os pacientes que estão piores, internados, que não conseguem alta. Os que estão em casa vivendo com os medicamentos acabam esperando mais tempo, porque precisam do órgão, mas estão estáveis. Muitos acabam morrendo na espera”, afirma.


No grupo de prioridades, estão aqueles dependentes de coração mecânico para sobreviver enquanto aguardam o transplante.


“Chega em um estágio que a doença evolui para quadro avançado, que não responde mais ao tratamento e acaba precisando de outros recursos. O paciente fica dependendo de uma máquina externa para conseguir um coração. O coração mecânico, no entanto, não é uma realidade brasileira, são equipamentos caros e não é oferecido em qualquer lugar”, pondera. Por causa desses fatores, apesar de a fila de transplante de coração ser menor em relação a outros órgãos, a urgência é maior. O transplante é a última alternativa e, quem precisa dele, na maioria dos casos, não pode mais esperar.


Doença pode ser evitada


Segundo o especialista, a insuficiência cardíaca pode ser evitada ou amenizada caso os fatores de risco e as doenças cardíacas sejam tratadas no início.


“Se o tratamento dos fatores de risco começar em uma fase não tão avançada, geralmente os pacientes são controlados com medicamentos. São poucos pacientes que acabam precisando ser internados em UTI. A maioria dos casos conseguimos controlar com medicamentos”, explica.


O cardiologista pontua que o tratamento precoce pode controlar ou até reverter o quadro.


“Então o principal foco é tratar os fatores de risco, a pressão alta, o colesterol, diabetes, diminuir obesidade. É tratar os problemas antes de evoluírem para uma doença mais grave' Cardiologista Sandro Franco

“Se você começar a tratar a doença desde o início e diagnosticar no início, com os medicamentos certos, a resposta é muito boa, você consegue controlar e até reverter o quadro. Vai chegar a necessidade de transplante aquelas doenças que não responderam a tratamento, ou foi uma situação mais grave, como uma miocardite, que é uma inflamação no coração, ou teve um infarto e o coração perdeu muito e não há o que ser feito”, pondera.


Fatores genéticos


Sandro Franco esclarece que existem fatores genéticos que podem influenciar nessa questão, mas são mais raros, como a hipercolesterolemia familiar, que é quando os níveis de colesterol estão sempre altos por causa de uma alteração genética. Detectar a doença precocemente significa prevenir infarto e AVC em pessoas muito jovens.


“Esses pacientes geralmente evoluem para uma insuficiência cardíaca, se não fizerem o tratamento adequado. Então o principal foco é tratar os fatores de risco, a pressão alta, o colesterol, diabetes, diminuir obesidade. É tratar os problemas antes de evoluírem para uma doença mais grave”, pontua.


Transplantes no Brasil


Segundo dados do Ministério da Saúde, no primeiro semestre de 2023 foram realizados 206 transplantes de coração no Brasil, o que representa aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado.


A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada. A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados. Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica.


O procedimento é regulado pela Lei de Transplantes, que determina que a família será a responsável pela decisão final.


Após efetivada a doação, a Central de Transplantes do Estado é comunicada e através do seu registro de lista de espera seleciona seus receptores mais compatíveis. Os doadores de coração são pacientes assistidos em UTI com quadro de morte encefálica, ou seja, morte das células do Sistema Nervoso Central, que determina a interrupção da irrigação sanguínea ao cérebro, é incompatível com a vida, irreversível e definitivo.

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